segunda-feira, 11 de outubro de 2010

PARTIDO VERDE, DONZELAS, CINISMO E NEUTRALIDADE

O PARTIDO VERDE e Marina Silva não podem fugir às suas responsabilidades e se acovardarem por trás de uma neutralidade cômoda, esse é o papel do PSOL e sua posição sectária, do “eu sou melhor, tenho a solução e não me misturo”.


Nem tão pouco, deve liberar a boiada para que se acomodem de acordo com suas conveniências e interesses pessoais. Deixem isso para o PMDB que tem vocação a vampiro, e em situação como essa, já estaria dividido entre Serra e Dilma, na estratégia de participar do poder seja qual for o vencedor.

É bom lembrar, que ficar em cima do muro é tradicionalmente a posição predileta do PSDB. E desejar aparelhar as instituições do Estado com os quadros partidários, para que se tornem instrumentos do Partido, como se o Estado brasileiro fosse um Sindicato, ai vocês precisariam entrar na escolinha do PT.

O PARTIDO VERDE não pode se comportar como uma casta donzela que precisa preservar a sua pureza e muito menos esconder-se atrás da cínica neutralidade. Até porque não é uma coisa nem outra. Já esteve em governos de PSDB e PT e seus quadros não são tão puros assim, há bem pouco tempo, Zequinha Sarney era um de seus expoentes. Em muitos lugares, especialmente na Amazônia, alguns de seus dirigentes não são o que costumamos chamar de ambientalistas.

A grande maioria dos votos de MARINA SILVA, não foram votos Tiririca, longe de serem votos de protesto, ou alienados, foram votos de quem quer algo a mais da política. Votos de quem tem consciência dos grandes problemas ambientais existentes no Brasil.

Gente que projeta um futuro melhor e não acredita no falso dilema “Desenvolvimento versus Preservação ambiental”. Hoje a palavra SUSTENTABILIDADE permeia qualquer forma de desenvolvimento e também o manejo dos recursos naturais, deixou de ser uma discussão conceitual para impregnar em nossa realidade cotidiana. Foi a candidatura de Marina Silva que pautou a SUSTENTABILIDADE e a trouxe para o centro da campanha presidencial.

Ao PARTIDO VERDE e a Marina Silva, 20 milhões de brasileiros delegaram uma missão: defender políticas que priorizem as questões ambientais e o desenvolvimento sustentável, que invista em novas tecnologias e novas fontes de energia renovável. Algo além da obvia e ambientalmente danosa, construção indiscriminada de hidroelétricas. O Brasil não é a China, aqui existe democracia!

Se ao PSDB foi possível criar o PROER para salvar banqueiro e ao PT o Bolsa Banqueiro graças às taxas de juros, ao futuro governo deve-se propor o “bolsa” energia renovável e o “bolsa” responsabilidade ambiental.

Que o futuro governo subsidie e desonere, por exemplo, os investimentos no desenvolvimento de tecnologias e produção de energia solar.

É preciso arrancar do próximo governo o compromisso de que todo projeto de desenvolvimento, sejam eles estradas, hidroelétricas, mineração, exploração florestal, hidrovias; só saiam do papel após cumprir de forma transparente, com ampla participação popular, todas as regras estabelecidas em nossa legislação ambiental. Como também é preciso maior rigor e participação da comunidade científica nas instancias que autorizam o licenciamento de agrotóxicos e produção de transgênicos.

E que ninguém ouse acabar com o Bolsa Família, dela depende parcela da população que há bem pouco tempo estava nas estatísticas da desnutrição e miséria absoluta. Dessa política compensatória, hoje também depende parte considerável de nosso mercado interno. O Programa Bolsa Família precisa estar articulado com iniciativas nas áreas da educação e qualificação profissional.

Do PARTIDO VERDE se espera uma mudança radical na forma de fazer política. É preciso dizer um IMENSO NÃO para os acertos de Gabinete em troca de cargos, feitos com o claro objetivo de usufruto dos recursos públicos.

Assumir o apoio a uma candidatura visando o interesse público e o futuro. Resgatar a moralidade na política e manter um compromisso ético com os eleitores que acreditaram nas suas propostas. Realizar acordo em torno de um Programa de Governo que contemple as propostas do PV tão essenciais para o futuro de nosso País.

Marina e o Partido Verde sinalizaram à população que irão conversar em torno de Programa de Governo e não de barganha por cargos como é habitual em nossa política, e que essa conversa acontecerá dentro da ética e da maior transparência possível para com os eleitores. Essa é a esperança de quase 20 milhões de brasileiros.

Que o Partido ignore a pressão da imprensa para se pronunciar, a imprensa é naturalmente ansiosa, que aguarde a convenção do dia 17. Restarão duas semanas para as eleições, tempo mais que suficiente para que os eleitores de MARINA SILVA, os que se abstiveram e os que votaram em branco no dia 03 de outubro, entendam as razões, e os objetivos, que levaram o PARTIDO VERDE a fazer a sua opção.

É hora de um dever cívico para com o nosso país. Apresentar suas propostas à sociedade e aos candidatos Dilma e Serra. Aquele que comprometer-se, de forma inequívoca, a incorporar a seu programa de governo, as políticas de desenvolvimento sustentável propostas pelo PV, esse(a) deverá receber o apoio do PARTIDO VERDE. Com esse(a) MARINA SILVA deverá subir ao palanque e ir à televisão, pedir aos eleitores os votos que lhe confiaram no primeiro turno.

Nas mãos do PARTIDO VERDE repousa uma oportunidade rara de resgatar a dignidade do fazer política em nosso País,

Aos acomodados basta repetir o bordão: “O futuro a Deus pertence”

Paulo Cidmil
Produtor Cultural
Sem filiação partidária

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A AMAZÔNIA PRECISA DE 2º TURNO PARA PRESIDENTE

Acompanho o pouco que se pode ver, ler e ouvir sobre as propostas dos candidatos a Presidência, os rumos que o país irá tomar nos próximos quatro anos, pelo que é possível vislumbrar até o momento, são uma incógnita.

Assisti ao debate dos candidatos a vice-presidente, e, SINCERIDADE, só era possível perceber nos candidatos do PV e do PSOL. Temer e o seu PMDB representam todo o oportunismo que sempre fez parte da política brasileira, ele mesmo um político sem brilho, eleito deputado por São Paulo graças aos votos da legenda, mas um rato dos subterrâneos palacianos, atuando nos conchavos e arranjos de bastidores para vender caro a maioria no Congresso, sempre de olho em um Ministério, Secretaria, Autarquia, Estatal, seja lá o que for que represente cargos e uma participação no dinheiro do contribuinte, que escoa pelo ralo da corrupção que recentemente ganhou um novo nome: “taxa de sucesso”.

Sobre o vice de Serra nem vale tecer muitos comentários. Um embusteiro que tenta iludir o eleitor com cara de bom menino e um discurso de moralidade (esteve no centro do governo César Maia no Rio de Janeiro. Governo com dezenas de casos de corrupção e má versação do dinheiro público). Tenta, junto com Serra, transformar a campanha em um escândalo sobre corrupção como se a população brasileira não percebesse que esse problema está nas entranhas de todos os Partidos sem exceção.

Serra não tem um projeto político para o país, ele e sua coligação estão enchendo os eleitores de promessas. Como a do salário mínimo de 600 reais já no próximo ano. E vem apresentando algumas iniciativas exitosas na área social realizadas no Estado de São Paulo, prometendo multiplicar essas ações por todo o país. Dizem que vão dar continuidade a todos os projetos sociais do Lula e mais, iram ampliá-los, provando que não conhecem do que falam porque mais que ampliação esses projetos precisam ser aprimorados.

Serra já apareceu com Lula, prometendo ser um Lula melhorado, já disse para a população que para Lula retornar em 2014, sua única chance será com a sua vitória, pois se houver uma vitória de Dilma ela fará um governo tão desastroso que eliminará as chances do PT e Lula de retornarem ao poder.

Serra e Índio da Costa parecem dois ilusionistas tentando enganar a população, mentem em tudo que dizem com um cinismo poucas vezes visto, acreditam que o eleitor ainda esta no tempo dos caras pintadas. Ao perceberem que as pesquisas não lhes favorecem, tornam-se mais agressivos e sem nenhum escrúpulo, se é que é possível falar assim de duas figuras que nunca mediram os meios para atingirem seus objetivos.

O PT, é hoje, um Partido tão envolvido com a corrupção quanto DEM, PMDB e PSDB. E, como tem o controle da maquina estatal, seus ratos tem se esforçado para superar em corrupção todos os outros Partidos juntos. Fazem isso sem culpa, pois acreditam ser lícito, uma vez que parte do dinheiro desviado vai para as campanhas milionárias que o Partido realiza pelo país. O projeto mais profundo do PT é permanecer no poder.

Dilma roerá um osso para controlar os ratos de seu Partido e sua sanha por cargos e recursos públicos. Ao seu redor ainda terá o PMDB com mais poder e uma teia de Partidos sem nenhuma matiz ideológica, uma coligação guarda chuva onde o que interessa é um naco do poder para atender às suas necessidades fisiológicas.

Nas candidaturas de DILMA e SERRA só é possível ver de forma clara e inequívoca a ânsia pelo poder.

PT e PMDB contam como favas contadas a eleição de Dilma ainda no primeiro turno. Isso será desastroso para a Amazônia. A eleição de Dilma no primeiro turno dará a ela o aval necessário para implementar a sua política desenvolvimentista para a Amazônia, que não respeitará as nossas peculiaridades e nossa diversidade biológica e cultural. Nomeará o Ministro do Meio Ambiente, o presidente do Ibama, do Incra, da Ana, e todos os órgãos relacionados as questões ambientais, da terra e de minorias, que autorizaram a toque de caixa projetos de mineração, de hidroelétricas e da expansão do agronegócio sem que sejam respeitados prazos e sem a participação popular.

Dilma é uma tecnocrata, ótima executiva, mas extremamente comprometida com políticas desenvolvimentistas que atendem mais aos anseios de expansão do grande capital que ao desenvolvimento social das populações locais. E é bom lembrar capital para investimento é o que não falta no Brasil de hoje.

Grandes investimentos não significam necessariamente desenvolvimento social de populações locais. A Amazônia está cheia desses exemplos. É preciso mudar o foco das políticas desenvolvimentistas para a Amazônia. Não podemos ser eternamente exportadores de matéria prima, esses recursos, todos sabem, são finitos, e proporcionam poucos postos de trabalho, não distribuem renda, o pouco que contribuem com impostos não retorna para a população local. Vão para o poço sem fundo do Estado e principalmente da Federação.

Foi Dilma que defenestrou MARINA SILVA do Ministério do Meio Ambiente, queria maior agilidade nas autorizações e liberações para implantação de projetos que pouco levam em conta as populações locais na Amazônia.

Já é difícil discutir uma Belo Monte, a mobilização popular regional é precária. Imagine uma dezena de Belo Montes espalhadas pela Amazônia. Hoje a nova utilidade da Amazônia é a transformação de seus rios em matriz energética. Só para o Rio Tapajós existem três projetos de grande e médias hidroelétricas.

Para a Amazônia, no momento só existe um voto possível: MARINA SILVA. Não porque ela tem origem amazônica, mas por suas propostas e compromissos com as questões ambientais. E é MARINA SILVA que tem apresentado novas alternativas de desenvolvimento para a Amazônia que levam em conta a sua diversidade e sua gente.

Uma expressiva votação em MARINA SILVA pode não a levar a um segundo turno com Dilma Rousseff, mas a transformará no fiel da balança para um segundo turno.

Será com MARINA SILVA que Dilma e Serra terão que negociar apoio para um segundo turno. E Marina não se sentará à mesa sem colocar as políticas ambientais como questão central dessa negociação. O PV e MARINA não sairão dessa sem a pasta do Meio Ambiente. Nada mais justo para o Partido brasileiro mais comprometido com a preservação ambiental e com propostas e alternativas sustentáveis para o desenvolvimento.

A Amazônia precisa de um segundo turno para a eleição presidencial, como sua floresta precisa de água e sol para se manter de pé.

Segundo turno para Presidente é vital para a Amazônia e saudável para a Democracia

Meu voto é MARINA SILVA, escrevi tudo isso para pedir o seu também!

Paulo Cidmil
Produtor Cultural
Sem Partido

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

QUEM NÃO PODE COM A MANDINGA NÃO CARREGA PATUÁ

Prezado Miguel Oliveira, Há pouco tempo circulou no Blog do Jeso, uma série de textos do artista plástico Manoel Apolinário sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa, segundo história contada por Zeca BBC e ouvida por Apolinário. Zeca BBC era um personagem muito conhecido em nossa cidade por ser uma pessoa, como diziam, “sem papas na língua”. E, por ter origem em uma das tradicionais famílias de Santarém, gozava de certa liberdade para abordar tão livremente um assunto que ao cidadão comum seria impensável.

Esse crime, apesar de obscuro e tenebroso, até os dias de hoje só pode ser contado pela versão oficial. Após 40 anos do ocorrido, os textos de Apolinário suscitaram mais de uma centena de comentários e estabeleceram grande polêmica e um numero maior de perguntas sem respostas.

A publicação dos textos foi incentivada pelo Blog, a ponto de ser sempre anunciado o próximo capitulo.

Porem, como a série de textos desagradou a familiares de um dos personagens centrais da história, iniciou-se a caça as bruxas. Apolinário, que tem como principal mecanismo de defesa o seu texto, retornou ao assunto através de suas já conhecidas cartas. O Blog que antes o incentivou fechou-lhe as portas alegando que Apolinário esta fugindo do foco. Não reconhecendo que se trata do mesmo assunto apenas com nova abordagem motivada pelos acontecimentos, e mais, disse tratar-se de assunto do passado, hoje já sem importância e que o melhor a fazer seria esquecer esse assunto. Hoje todos os textos e comentários relacionados ao assunto sumiram do Blog.

Independente da relevância de Apolinário como artista e cidadão de nossa cidade, trata-se de uma clara agressão a liberdade de expressão, de prévia censura a um texto assinado pelo autor, que antes era incentivado e tratado como articulista. Deixando assim, o que antes era considerado colaborador entregue a própria sorte.

Tomei a iniciativa de escrever e telefonar ao proprietário Jeso Carneiro acreditava ser o seu Blog um veiculo independente e autônomo, capaz de bancar qualquer assunto ou polêmica, como ele costuma afirmar, “doa a quem doer”. Concluo que me enganei, pois o assunto assassinato de Elinaldo Barbosa está terminantemente proibido no Blog que trouxe á público essa discussão.

Como a prévia censura ao assunto Elinaldo Barbosa impossibilita tornar publico os meus argumentos, recorro ao seu espaço para a publicação da carta de Apolinário, e, quem sabe, através de um link, ver também publicado a carta endereçada ao Jeso Carneiro.

Atenciosamente,

Paulo Cidmil


* carta endereçada ao blog estadodotapajós em abril de 2010

CARTA ENDEREÇADA A JESO CARNEIRO

JESO NÃO PERMITA ISSO!

Prezado Jeso, acabo de receber email do artista plástico Manoel Apolinário Oliveira de Sousa, nosso conhecido Apolinário, signatário de diversas cartas e textos publicados em seu Blog e que até bem pouco tempo era considerado um de seus articulistas.

Surpreendeu-me o motivo do email de Apolinário, cujo conteúdo é uma carta que deveria ser publicada em seu blog, e que relata bem a seu estilo, já conhecido de seus leitores, o porquê de não ter ido ao encontro da Senhora Eunice Imbiriba, viúva de Ubaldo Correa. A carta de maneira bem superficial aborda algumas dificuldades que Apolinário passou a enfrentar após publicar em seu Blog uma série de três textos sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa. Textos esses como você sabe, campeões de comentários em seu blog.

Na Páscoa estive em Santarém. Uma das coisas que queria dessa viagem era conhecer um pouco melhor o Apolinário, passamos uma tarde a caminhar pelas ruas de Santarém, falou-me de como pesquisou e quais pessoas entrevistou para escrever os textos, relatou vários problemas que passou a enfrentar, avisos, piadas, sarcasmo, telefonemas, suas telas jogadas no lixo e pessoas que passaram a desconsiderá-lo. Todas essas reações estão relacionadas aos textos sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa. Ele não me pareceu intimidado nem ameaçado, ao contrario, estava extremamente envolvido com o assunto e me assegurou que gostaria de escrever mais sobre esse crime. Suas pesquisas me trouxeram algumas informações novas que desconhecia e motivou-me a colher alguns depoimentos de pessoas que conviveram com Elinaldo Barbosa, isso mais com o intuito de preservar a memória do político e personagem da história recente de Santarém. Quase não existem fotografias dele e muitos dos que viveram essa época já se foram.

Foi uma tarde bastante agradável a que passei caminhando com Apolinário, ele me revelou que sente especial atração por casos intrigantes da História de Santarém como matéria prima para sua produção artística e literária. Falou de uma exposição que pretende realizar, de seus 4 filhos e de seu trabalho como pintor de quadros por encomenda.
Perguntei sobre as histórias que algumas pessoas comentam e que relatam sobre a venda de quadros que ele depois pegava emprestado e vendia para outras pessoas. Ele confirmou a história, mas com ressalvas, disse que sempre vendeu seus quadros por preços irrisórios e que no inicio de sua carreira tinha uma “lombra” que quando vendia um quadro para alguém e não via o quadro na parede, após um tempo, sob o pretexto de realizar uma exposição, pedia o quadro emprestado e não devolvia. Contou-me uma história bastante interessante que ocorreu entre ele e o maestro Isoca.
Um certo dia encontrou o maestro sentado em um banco de praça em frente ao Clube Recreativo, aproximou-se e revelou ao maestro que desejava muito pintar um retrato seu. O maestro com a simplicidade que lhe era peculiar de imediato concordou e marcou dia e local. No dia marcado encontraram-se na Casa da Cultura para realizar a pintura, o maestro ficou sentado ao piano tocando durante quatro horas enquanto Apolinário pintava. No meio da sessão de pintura e musica adentrou a sala a filho do maestro Tinho acompanhado da policia, e falou: “papai o senhor ficou maluco, tá dando ouvido pra esse doido”. O maestro respondeu: “meu filho aqui tá tudo bem, isso é conversa de artista”. Apolinário terminou a tela e entregou ao maestro de presente e os dois deram ao Tinho.
Segundo Apolinário, essa tela ficou jogada atrás de um móvel e nunca foi para a parede. Certo dia, Apolinário, sob o pretexto de uma exposição pediu o quadro emprestado e não devolveu, disse que o quadro ficou exposto na parede do Jornal Gazeta do Tapajós e, que, após a publicação de um texto seu contando a historia do quadro no mesmo jornal, o Sr. Raul Loureiro leu a matéria e procurou Apolinário propondo comprar o quadro. Apolinário vendeu. O Sr. Raul Loureiro levou a tela para Portugal, mandou emoldurar, e na volta, no dia do aniversário do maestro, durante a celebração de uma missa na Catedral para homenageá-lo, o Sr. Raul Loureiro entregou o quadro de presente para o maestro. Esse quadro hoje encontra-se na sala de outro filho do maestro em Belém do Pará.
Uma das formas de preservarmos a liberdade de expressão e, quem sabe, até a integridade física de Apolinário é a publicação de seus textos. Os que se sentirem ofendidos ou prejudicados que procurem os seus direitos por meios legais.
Você nunca foi e nem será responsabilizado por texto cujo autor assina e assume a autoria. Para mim é constrangedor imaginar e ter que perguntar a você se está sofrendo pressões para não publicar os textos e isolar o Apolinário condenando-o ao silencio. Seu Blog me parece um dos poucos veículos de informação de Santarém que consegue manter a imparcialidade. Imagino que deve ser constrangedor também para você recusar publicar o texto de Apolinário.
Amigo Jeso, quem o procurou para pedir que não publique sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa é quem deveria estar constrangido em ter uma atitude antidemocrática e covarde. Porque não escrevem a sua versão ou procuram os meios legais contra o autor. Digo-lhe apenas que o nome de Ubaldo Correa é indissociável dos acontecimentos de 68/69 em nossa cidade, incluindo ai o golpe que destituiu o Prefeito eleito Elias Pinto e o assassinato de Elinaldo Barbosa. Ele é o personagem que não soube perder, e que do lado obscuro dessa história, tramou, conspirou, influenciou, induziu e precipitou os acontecimentos sobre os quais até hoje ainda não podemos falar.
No ano novo, eu e você, tivemos um encontro muito legal que só pode ocorrer entre pessoas que gostariam de cultivar uma amizade, na ocasião já não constavam de seu blog os textos de Apolinário e o meu sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa, perguntei se você havia sofrido pressão para retirá-los, você me disse que teve problema com um HD e que havia perdido todos os textos e matérias dos últimos três meses, não havia por que duvidar de sua palavra. Agora estou me perguntando: Será?
Amigo a liberdade nos cobra um preço muito alto, manter nossas convicções nos impõe sacrifícios, perdas, pressões, ameaças... A grande maioria esta sempre querendo levar vantagem. Vivemos em uma sociedade onde impera a lei de Gerson. É para isso que você esta ai, para fazer a diferença! Você é parte dessa minoria que tem compromisso com a verdade, com a integridade e dignidade humana. É uma pessoa que tem compromisso com o futuro dos que virão. Por isso estou escrevendo-lhe esta carta, que gostaria de ver publicada em seu blog e venho pedir-lhe que poste a carta de Apolinário que acabo de ler.
Hoje aqui no Rio de Janeiro é dia de São Jorge, Ogun para a maioria dos cariocas, dono do ferro e do fogo, senhor das guerras e da justiça. Desde a madrugada os fogos não param. Soltam mais fogos aqui que dia de São João no Nordeste, São Jorge é extra oficialmente o padroeiro dos cariocas, e da maioria das escolas de samba e militares. O Rio hoje amanheceu vermelho e branco e as diversas igrejas de São Jorge estão repletas, são seus devotos que irão clamar por suas bênçãos.
Não sou atento a essas coisas e sai de casa todo de azul claro, cores de Yemanjá que também pode ser Nossa Senhora da Conceição. Mas posso afirmar a você, que tenho uma fé inexplicável de que ainda verei uma nova versão para o crime que ceifou a vida de Elinaldo Barbosa aos 33 anos. A versão oficial, que não pode ser contestada, nunca convenceu a nenhum membro de minha família e ainda acredito que antes de morrer, algum dos personagens dessa história irá revelar fatos que permaneceram em silêncio durante esses quarenta anos.
Não desejo que aconteça com você o que possivelmente aconteceu com algumas pessoas do episódio Elinaldo Barbosa. Caso ocorra algum acidente com o Apolinário você passe o resto da vida omitindo ter recebido a carta que ora recebo. Pois se ninguém usou o seu blog para contestar a história de Apolinário e nem o meu texto, já se movimentaram para intimidá-lo e para realizar visita a casa de minha mãe e saber qual envolvimento que temos com ele e com a sua iniciativa de escrever sobre o crime. Pelo que deduzo parece que também andaram lhe visitando. O tempo passa, as coisas mudam, mas as praticas continuam as mesmas. Os covardes sempre preferem caminhar nas áreas sombrias, de onde incitam, sabotam, conspiram, caluniam, mentem, perseguem, intimidam e usam de todo um repertório de atitudes sórdidas para conseguirem o seu intento.

Espero sinceramente que publique minha carta, e se por acaso for procurado por haver publicado, passe à essa pessoa todos os meus contatos e endereço, esse mundo é pequeno demais para que não possamos nos encontrar.

Um grande abraço,

Paulo Cidmil


* carta endereçada a Jeso Carneiro em abril de 2010
CARTA ABERTA À DÉA DE MENDONÇA ALHO POR APOLINÁRIO



Preciosa Dona Déa, é com muita satisfação e carinho que venho através desta agradecer aquele saboroso café que tomamos em sua residência, acompanhado por um longo papo à respeito dos casos mais interessantes da antiga e atual Santarém. Espero lhe encontrar com a mesma disponibilidade, saúde e espírito de sempre para então informá-la melhor do rendimento que deu os artigos que escrevi no Blog do Jeso sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa, história que a mim foi contada por Zéca BBC em 1985 no escritório do Sr. Zé Miléo.

Sem a mínima intenção de comprometê-la, peço a sua atenção para este assunto simplesmente por achar que a senhora tem um bom discernimento, conhece a história e com muita naturalidade sabe ouvir as pessoas que lhe procuram. Falávamos no meio

do nosso papo que uma campanha de inveja e discriminação social acompanha o dia-a-dia de minha vida, censurando qualquer manifestação intelectual produzida por mim. Isso não me intimida, já estou bem acostumado. Nas minhas primeiras exposições de pintura era comum ser mal interpretado. Comecei assim e sei que os temas que gosto de trabalhar são bastante atrativos para tal. No entanto, às vezes acontecem coisas diferentes, como por exemplo ameaça de morte, processo, boicote. Alguém tenta colocar em dúvida minha capacidade de compor e expor, talvez porque eu não tenho um diploma de jornalista e nem sou de família tradicional. Já tive sérios problemas com a igreja e políticos, agora acho que estou sob mira outra vez.

Depois da publicação dos artigos que contam detalhes do assassinato de Elinaldo Barbosa, história que ouvi do saudoso e inconfundível Zéca BBC, muitas coisas foram mudando em minha vida pelos corredores da cidade. O mais intrigante aconteceu no dia 04 deste mês quando fiquei sabendo que uma mulher que foi muito bonita no passado, procurava por mim. À princípio fiquei bastante envaidecido.Até quando descobri que se tratava de uma senhora filha do coronel Mário Fernandes Imbiriba e dona Beatriz Lalor Imbiriba que veio da ilha Fernando de Noronha para Santarém onde se casou com o político e empresário Ubaldo Corrêa, homem muito talentoso e extraordinário, que fez a diferença na história da política Santarena.

Ninguém na geração dele soube usar as mesmas cartas e jogá-las com a mesma performance. Na parte que coube a ele como personagem no assassinato de Elinaldo Barbosa, contada por Zéca BBC, pesquisada e escrita por mim, ele foi perfeito. Fez tudo o que planejou, limpou as mãos e se condecorou como o mais importante e honrado político de todos os tempos, através da influência que tinha como proprietário dos principais meios de comunicação. Enquanto a vítima maior, Elinaldo Barbosa, prefeito interino na época, foi sepultado como ladrão (uma boa quantia em dinheiro foi roubada da prefeitura). Mais do que a própria morte de Elinaldo, essa acusação dói até hoje no coração da família Barbosa.

Então Dona Déa, logo que fiquei sabendo que a senhora Euníce Imbiriba Corrêa procurava por mim, tomei a dianteira e no dia 06 (abril) falei com ela por telefone. Perguntei se me procurava, ela me respondeu que sim, e que o assunto tinha que ser tratado pessoalmente, então me convidou para ir na sua residência no dia 07 às 8:30h. Confirmei que iria, porém, logo depois, um filme estranho rodou em minha mente, pensei que ficaria muito vulnerável na residência dela, por isso sugeri que o encontro fosse na biblioteca da Casa de Cultura no mesmo dia e horário.

Deixando bem claro no tom da voz que não gostou da idéia e que tinha que ser do jeito dela, finalizou dizendo que ficaria me aguardando na sua residência e desligou o telefone. Infelizmente, não foi possível o encontro, com ela impondo dessa forma. Essa doce senhora foi muito bem educada a dar as ordens e fazer as coisas andarem sempre na direção de sua vontade. Trás de berço, em punho, as armas certas para impor a sua lei. Excelente esposa, exemplar mãe de família, adorada por muitos amigos e amigas, filhos, netos, irmãos e sobrinhos, pinta muito bem, é uma católica praticante, ajuda os presidiários através da Pastoral Carcerária, com certeza já deve ter o seu lugar reservado no reino do Céu por Nossa Senhora da Conceição. Mas por favor, pense comigo Dona Déa, as qualidades dela servem como borracha para apagar o lado obscuro, enigmático e perigoso de Ubaldo? A senhora acredita que ela conhecia e acompanhava de perto esse outro lado da moeda? É natural que tome as dores e diga que, na opinião dela, a história (o assassinato de Elinaldo Barbosa) contada pelo fabuloso Zéca BBC e escrita por mim, seja caluniosa. Ela foi esposa de Ubaldo tem mesmo que puxar a sardinha para o lado dele e mandar processar qualquer um que venha tocar nesse assunto. Não é à toa que ninguém fala nesse crime há quarenta anos.

Eu pesquisei o caso, até agora os trinta e poucos personagens dessa história que estão vivos tremem e se emocionam quando são procurados por alguém para falar a respeito do assassinato. Entre alguns, tem até verdades mentirosas ensaiadas, do tipo: “eles eram todos compadres, amigos e parceiros, não havia motivo para um tramar a morte do outro, o Severino Frazão é que era doido!”

Se de alguma forma é doloroso para a senhora Euníce saber que alguém está escrevendo essa história, que foi contada por Zéca BBC, pior está sendo para os familiares daqueles que sangraram e tiveram suas vidas ceifadas para atender os caprichos estratégicos e egocêntricos da mente “brilhante”de Ubaldo Corrêa.

Me perdoe Dona Déa por lhe escrever esta carta, quando na verdade a senhora merecia um poema suave, mas como disse no início, a senhora sabe ouvir, e essa é uma história de Santarém que precisa ser contada. Sei que a senhora não gosta de Internet, mas com certeza alguém se encarregou de imprimir e lhe mostrar. Agradeço ao intermediário por mim e muito obrigado por estar lendo. Sem mais ter com que lhe informar no momento me despeço, e por gentileza aceite um forte abraço desse seu declamador de poemas,

Obs: À propósito, Dona Déa, o nome do Rio que cruza o Iraque, se for com cinco letras é Tigre. O nome do menor país do mundo, se for com oito letras é Vaticano.


Apolinário

* carta a mim endereçada em abril de 2010 pelo artista plástico Manoel Apolinário. Foi encaminhada anteriormente ao blog do jeso que se recusou a publicar. Escrevi e liguei ao amigo Jeso para que publicasse o texto de Apolinário, Jeso alegou que o assunto já havia se esgotado com as 3 cartas de Apolinário e o meu texto todos publicados por ele. Disse que esse era um assunto que já fazia parte do passado e que teria prazer em continuar publicando nossos textos, de preferencia que abordassem assuntos da atualidade.

O HOMEM ROUBADO NUNCA SE ENGANA

Desde a postagem do texto do Apolinário neste blog sobre o assassinato de Elinaldo Barbosa, um filme de minha infância roda em minha cabeça. Resolvi então escrever sobre minha convivência com ele para dar, mesmo que minimamente, a dimensão de sua figura humana. Recorri à memória e a análise de fatos que ao longo do tempo se tornaram mais claros à medida que fui amadurecendo. Se você é daqueles que não gosta de textos longos, desista agora!

Meu pai separou-se de minha mãe quando eu tinha 5 anos desaparecendo para as bandas do Amazonas. Saímos do Hotel Mocorongo onde minha família mantinha o hotel em sociedade com um amigo de meu pai que vendeu a nossa parte ao sócio.

Fomos morar na Rua São Sebastião próximo ao cemitério. É a partir dessa época que observo a presença da família de minha mãe em nossas vidas. Aos domingos íamos almoçar na casa de vó Silvia e vô Abdon. Muita comida, muita fruta, açaí, e, muita alegria e brincadeira principalmente por causa da presença de meu tio Elinaldo sempre atento e pronto a fazer gozação. Colocava apelido, inventava estória e se alguém “pegava corda” estava perdido. Não escapava nem meu tio Ezenildo sempre sério, de poucas palavras e menos jogo de cintura para brincadeira e gozação. Era sempre uma grande molecagem e muito riso, só lembro de ver Elinaldo sério no dia que trouxe a sua futura esposa, tia Nazaré, para apresentar à família. Foi logo dizendo que era nossa tia e mandando a gente tomar “bença”. Nazaré tratou de nos dispensar da bença, mas para mim a partir daquele dia se transformou em uma tia muito querida, pois logo me afeiçoei a ela.

Elinaldo tinha grande afinidade com minha mãe e a partir da separação dela passou a estar mais presente conosco. Era a pessoa da família com quem minha mãe dividia os nossos problemas. Estava sempre pronto a nos ajudar.

Casou em 65, foi morar na 15 de Agosto muito próximo de nós. Passava quase que diariamente em nossa casa, às vezes nem saia do carro, chamava a mana (como tratava a minha mãe) perguntava se estava tudo bem e sempre nos alertava para obedecer minha mãe e ajudá-la caso contrário não teria “vesperal” (era como se chamava as sessões de domingo à tarde no cine Olímpia). Elinaldo pagava o nosso ingresso, nossa tarefa era contar o filme para ele. Observava o encantamento que o filme produzia em nossa cabeça e ria muito de nossa narrativa. Mas se houvesse queixa ou castigo de minha mãe adeus vesperal do Cine Olímpia.

Sua presença era muito constante em nossa vida. Aos domingos à noite após a missa da Praça da Matriz nos levava até a Garapeira Ypiranga para comer pastel, canudinho e tomar caldo de cana ou nos dava dinheiro para que mamãe nos levasse até a padaria Lucy para tomar sorvete.

Nos dias de jogos importantes como o Ray x Fran ou de um deles contra o America e Fluminense ou quando havia jogo com time de fora, Remo, Payssandu, Tuna Luso, Sport Bahia, Madureira, São Cristovão, Bonsucesso, America e Flamengo do Rio de Janeiro, seleção brasileira de amadores (hoje sub 23) Elinaldo passava em casa e nos apanhava para levar ao Estádio. Era presidente da Liga Esportiva, promotora dos jogos.

Um de meus programas preferidos era ir para casa de minha tia Nazaré. Lá havia vitrola e muitos discos. Elinaldo gostava de musica. Na sua casa conheci Elizeth Cardoso, João Gilberto, Ciro Monteiro, Miltinho, Trio Yrakitan, Demônios da Garoa, Jair Rodrigues, Elza Soares, Agostinho dos Santos, Simonal, Jorge Ben, Trio Mocotó, Os Velhinhos Transviados e também o pessoal da jovem guarda: Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Leno e Lilian, Jerry Adriany, Wanderley Cardoso, Paulo Sergio, Wanderléa, Martinha, Golden Boys, Roberto e Erasmo. Também ouvia as histórias de Belém contadas por minha tia. Veio para Santarém a trabalho, nasceu e cresceu em Belém, tinha muitas lembranças de sua terra. Despertou em mim grande desejo de conhecer Belém.

Descobri a política em 66. Elinaldo levou-me em duas viagens da campanha, aos “sítios” (assim eram conhecidas as comunidades de várzea) Carariacá e Arapixuna. Muita laranja, peixe assado com farinha e jogo de futebol. Em outra ocasião levou-me à “colônia” (assim chamávamos as comunidades do planalto). Muita pamonha, bejú, tarubá, café e jogo de futebol. Era um acontecimento festivo e Elinaldo muito festejado. Passei a acompanhar, na medida de minha compreensão, as notícias da política. Elinaldo lia os jornais de Belém diariamente, eu ia a sua casa buscar o jornal do dia anterior para ler junto com minha mãe, que apesar de ter pouco tempo, gostava muito de ler.

Ouvíamos rádio onde era possível acompanhar a disputa Ubaldo Corrêa x Elias Pinto. Ubaldo tinha o apoio dos militares, governo estadual e também contava com o apoio da elite política e econômica local. Elias Pinto, político populista, hábil orador, tinha um discurso apaixonado por Santarém que emocionava, falava direto ao povo e teve uma sacada sensacional: associou a sua imagem e a de seu Partido ao “Barra Limpa” e a de Ubaldo e seus correligionários ao “Barra Suja”. Eram duas expressões que surgiram com a jovem guarda. Logo simpatizei com Elias Pinto e passei a torcer por ele. Cobrava de Elinaldo “pô tio, tu é barra suja”. Comparada a linguagem atual “barra suja” era como dizer sujou!!! Elias Ribeiro Pinto era um visionário, foi o primeiro político santareno a levantar a bandeira do Estado do Tapajós, no ano de 1950!

O discurso de Elias Pinto cresceu na cidade, subiu o Planalto e impôs uma retumbante derrota a Ubaldo. Elinaldo mesmo com Ubaldo foi o terceiro vereador mais votado. Toda a minha família votou em Ubaldo.

Elinaldo estudou na Escola do Comercio, hoje Rodrigues dos Santos. Trabalhou na loja Curiboca, aos 18 anos era funcionário da Souza Cruz, alguns anos depois passou para fiscal da Mesa de Rendas (Secretaria Estadual de Fazenda). Era torcedor e foi presidente do São Raimundo, foi também presidente de Honra do Flamengo da Prainha. Foi o seu envolvimento com o futebol que o levou a presidente da Liga Esportiva e a conhecer o Dr. Everaldo Martins, que o levou para a política. Até a época de sua eleição para vereador a política partidária não tinha maior significado para ele. Nunca dependeu ou viveu às custas de sua atuação política.

No decorrer dos anos de 66/67, continuávamos a nos reunir aos domingos na casa de meu avô. As conversas da família não giravam em torno da política local, era mais comum termos discussão e gozação em torno da disputa São Francisco X São Raimundo e outras amenidades. Meu avô gostava de saber as notícias da política nacional, sintonizava o rádio em estações do Rio de Janeiro e Belém para saber de Jânio, Juscelino, Jango, Lacerda, Brizola, Castelo Branco. Era freqüentador do “Canto Redondo”, ponto comercial dos Corrêa, onde se falava de política. Tinha grande admiração e amizade por Manelito Corrêa, pai de Ubaldo. Minha avó era muito prática, mantinha sua atenção no movimento da Quitanda e na venda do Açaí. Possuíam a maior venda de Açaí, vendiam na Praça da Matriz e forneciam para todas as sorveterias e fábricas de picolé da cidade. Nenhum membro da família ou parente era funcionário do município ou fornecia mantimentos, materiais ou serviços para a Prefeitura. Ninguém pleiteava terrenos junto a Prefeitura. Meu tio Ezenildo possuia um box comercial no Mercado Municipal e minha mãe fazia doces, salgados e comidas por encomenda para festas.

A atuação de Elinaldo na Câmara Municipal não se pautou na oposição sistemática a Elias Pinto. Procurava ver atendidas as demandas relacionadas ao esporte, educação e cultura. Creio que até o seu primeiro ano de mandato, Elinaldo ainda se via mais como um dirigente da Liga Esportiva que como vereador.

Passou cerca de um ano construindo sua casa em terreno dado por seus pais, graças ao seu trabalho na Mesa de Rendas e o de sua esposa na Fundação Sesp. Nos sábados reunia-se com os pedreiros. Trabalhavam pela manhã, almoçavam, à tarde planejavam o trabalho da semana seguinte e bebiam cerveja. Eu ficava sempre junto para fazer algumas tarefas como buscar água e comida na casa de minha avó, comprar cigarro e cerveja e limpar o jipe dele para ganhar a grana do vesperal. Elinaldo bebia pouco e apenas nos fins de semana, nunca o vi de porre exceto no nascimento de seus filhos quando entrava em estado de euforia e ficava literalmente doidão. Mudou-se para Rua Senador Lemos com a casa ainda em fase de acabamento. No mesmo período mudamos com minha mãe para casa no terreno ao lado da dele construída por meu avô.

A suspensão de Elias Pinto e seu vice, a principio por um período de 30 dias para que se defendesse das acusações do Tribunal de Contas, trouxe um grande clima de insatisfação. Na ocasião tomou posse o presidente da Câmara, vereador Geronimo Diniz. Elias denunciou perseguição e a população começou a protestar.

A eleição de Elias Pinto havia deslocado do poder a elite política e econômica representada por famílias tradicionais, especialmente os Corrêa, que pela primeira vez em muitos anos não estariam no poder ou participando dele. Ubaldo que havia sido prefeito, era deputado estadual, ficou alijado do poder mas tinha um ótimo relacionamento com os militares que viam nele o prefeito ideal. Santarém estava na rota dos grandes projetos. Transamazônica, BR163 e era uma base estratégica para a caçada aos guerrilheiros fugitivos que eram vendidos na mídia como a ameaça comunista. Precisavam de um prefeito colaboracionista. Era o tempo do “Brasil, ame-o ou deixe-o” e “Amazônia: integrar para não entregar”.

Na prática Elias Pinto teve apenas um ano de mandato. Contra si aliaram-se os militares, o governo do Estado e a oligarquia local. Elinaldo não se envolveu no movimento de bastidores liderado por Ubaldo Corrêa para destituir Elias Pinto.

Todo o período que Geronimo

Diniz esteve prefeito houve resistência e protesto popular. Ele tinha atuação apática, não gozava de apoio popular, seu perfil era o de conchavo de gabinete e parece ter tido problemas de ordem moral para permanecer no cargo. Na maioria das manifestações a mobilização tinha como ponto de concentração a área em frente e ao lado da residência de “Seu” Moraes, empresário que apoiava Elias Pinto, localizada na Rui Barbosa onde hoje é a Feira da Candilha, ficava a menos de 100 metros da casa de Elinaldo e de toda a sua família.

A eleição de Elinaldo para presidente da Câmara foi uma alternativa para apaziguar os ânimos. Elinaldo foi eleito com boa votação, era muito popular e não tinha envolvimento com o complô que derrubou Elias Pinto. Gozava da simpatia da maioria dos vereadores, foi eleito presidente da Câmara por unanimidade. Ao aceitar a indicação sabia que teria que ocupar a função de Prefeito. Onde muitos viam uma missão difícil devido a resistência popular, Elinaldo viu uma oportunidade política e não se intimidou.

Procurou assegurar o empenho do governador Alacid Nunes antes de sua decisão e durante os 5 meses em que esteve à frente da Prefeitura teve total apoio do governador. Tomou posse já inaugurando uma escola que foi iniciada ainda na administração de Elias Pinto, o colégio Pedro Álvares Cabral.

Uma semana após a sua posse aconteceu a passeata para retomar a Prefeitura que culminou com a morte de duas pessoas e diversos feridos, entre eles o deputado federal Haroldo Veloso que faleceu meses depois devido ao ferimento. Essa manifestação já estava anunciada antes da posse de Elinaldo.

Desse episódio lembro que logo pela manhã alguém veio avisar na casa de meu avô para que Elinaldo não fosse à Prefeitura porque iriam tentar matá-lo. A manifestação teve a concentração no lugar de sempre, ao lado de nossa casa. Lembro de meu avô fechar a Quitanda. Chegavam muitas pessoas vindas da colônia e até da várzea, mas em nenhum momento a população nos hostilizou ou se manifestou contra Elinaldo. Vinham bater à porta de meus avós para pedir água, o que já era um costume. Após observar por um período, meu avô abriu a Quitanda. Mas nesse dia Elinaldo não ficou na Prefeitura, retirou-se por volta do meio dia.

O envio dos militares de Belém para proteger a Prefeitura em caso de invasão foi uma decisão do Governador. Havia a firme determinação do governo militar em não permitir o retorno de Elias Pinto. Elinaldo sabia da posição dos militares. Após a morte dos manifestantes Elinaldo tinha duas opções: se acovardava renunciando a Prefeitura e a presidência da Câmara precipitando a intervenção e praticamente encerrando sua carreira política ou mantinha-se firme na Prefeitura acreditando poder reverter a situação. Apostou na segunda opção.

Estreitou o relacionamento com Alacid Nunes indo a Belém quase que semanalmente despachar com o governador. Procurou resolver o salário do funcionalismo, atrasado há meses. Não fez nomeações, levando consigo numero muito reduzido de pessoas, cerca de uma dezena. Procurou trabalhar com os funcionários disponíveis no município.

Elinaldo focou dois objetivos: primeiro o entendimento com o Governador para poder governar. Segundo, estreitar o relacionamento com a população buscando apaziguar os ânimos e restabelecer a normalidade. Precisava dos recursos do Estado para fazer obras e através das obras chegar mais fácil a população.

Acordávamos as 06h30min. Às sete íamos para o Colégio Estadual Álvaro Adolfo da Silveira. Tínhamos o hábito de perturbar meu tio para pedir alguma coisa ou às vezes pegar uma pequena carona só para andar de carro. Nesse período quase que não o víamos mais, quando acordávamos ele já havia saído. Estava completamente absorvido pela política, gostou do desafio e de estar Prefeito. Antes de ir à Prefeitura percorria todas as obras em execução. Nos fins de semana comparecia a eventos comunitários sociais ou esportivos na área periférica da cidade. Desfez o aparato de segurança em torno da Prefeitura e passou a receber todas as pessoas diretamente sem maiores triagens. Passou a não ter mais vida social com a família.

Iniciou uma série de obras de aterro e terraplanagem de ruas com o apoio do D.E.R entre elas Rui Barbosa, Silva Jardim, Turiano Meira, 15 de agosto, também Silvino Pinto e Barjonas de Miranda que eram dois grandes valões. Asfaltou parte da 15 de Novembro (em mutirão com os moradores). Também a Senador Lemos e a área em frente à Câmara Municipal. Construiu o Colégio Frei Otomar, inaugurado após a sua morte. Fez também loteamento e distribuição de terrenos à população onde hoje são os bairros do Carananzal e Boa Esperança.

A violenta ação policial ocorrida na ocasião da passeata para tomada da Prefeitura e o ferimento que tirou Haroldo Veloso, personagem que além de Deputado Federal era militar muito respeitado por sua história política, foi um duro golpe, contribuindo para desmobilização do movimento pro Elias Pinto. A postura de Elinaldo, completamente oposta a de Gerônimo Diniz, mais próximo da população, se empenhando e resolvendo o problema de meses no atraso de salários, realizando obras, também contribuiu para que aos poucos a situação fosse entrando na normalidade.

Em dezembro já era possível prever que Elinaldo, pela determinação com que desempenhava o cargo de Prefeito, iria ocupar a Prefeitura até o fim do período do mandato de Elias Pinto que seria dezembro de 1970. Conseqüentemente seria um sério candidato a qualquer cargo eletivo.

O fato de manter uma posição de independência com relação aos grupos de Elias Pinto e Ubaldo Corrêa não estava sendo bem visto principalmente pelo grupo de Ubaldo Correa. Isso pode ser notado pelos comentários irônicos vindos de certos setores da nossa “elite”. Quando Elinaldo anunciou o asfaltamento de algumas ruas, soltaram a seguinte piada maliciosa como forma de impingir-lhe descrédito: diziam que Elinaldo iria asfaltar a cidade com caroços de açaí. Referencia clara à atividade econômica de seus pais e a sua provável incapacidade para ser gestor do município. Nessa época a política tinha como veículo de propaganda o boato e a tentativa de ridicularizarão. Essas informações ao chegarem a Elinaldo só reforçavam a sua decisão de manter-se independente.

Certa ocasião revelou a seu irmão Ezenildo que Ubaldo por duas vezes havia solicitado um encontro para conversarem e que não atendeu ao chamado dele. Era importante manter distância dos grupos que vinham se digladiando desde as eleições, para que de fato pudesse representar uma alternativa para a população. Outro fato a considerar com relação ao seu distanciamento de Ubaldo: começava a polarização na política paraense entre Alacid Nunes e Jarbas Passarinho. Elinaldo estava muito próximo de Alacid e Ubaldo aliava-se a Passarinho que por sua vez era muito próximo dos generais do Planalto Central.

No inicio de 68 Elinaldo fez um acordo comigo. Se ajudasse minha mãe e fosse bem no colégio ele me levaria para conhecer Belém. Em novembro eu já estava aprovado, minha tia Nazaré falou com sua mãe para que me recebesse em Belém e no início de dezembro viajei.

De dezembro até fevereiro Elinaldo esteve pelo menos 6 vezes em Belém para tratar dos problemas de Santarém, ficava no máximo dois dias. Eu ia ao aeroporto e voltava com ele até o hotel Central onde se hospedava. Ele seguia para os compromissos e eu comprava gibis, jornal e ia ao cinema com o dinheiro que me dava. A casa onde eu ficava era próxima à Praça da Republica. Entre seis e sete da noite eu voltava ao hotel que também era próximo da Praça. Ele ficava no hotel lendo jornais depois caminhava comigo até a casa de sua sogra. Passava quase o tempo todo me sacaneando porque eu não havia conhecido nenhuma garota e porque nessa época o Flamengo sempre apanhava do Botafogo. Dizia: eu não vou mais te dar dinheiro pra ir ao cinema, tu é muito frouxo, vai pro vesperal e não arruma uma namorada.

Desses encontros em Belém me lembro de três coisas que ilustram bem a sua determinação em investir na carreira política. Em algumas ocasiões ele encontrava com amigos de Santarém e paravam em um bar da Praça da Republica para conversar e beber cerveja. O vi mostrar um jornal chamado “O Observador” que tinha o mesmo formato dos jornais de Belém. Ele estava apoiando o jornal que seria um veiculo para divulgação dos trabalhos da Prefeitura.

Em outra ocasião disse aos amigos que comentavam sobre uma entrevista sua que a função exigia a toda hora um pronunciamento, coisa que não estava acostumado. Que iria se dedicar ao exercício da oratória para ter um melhor desempenho nessas ocasiões. Esse papo com amigos ia até 21h30min, quando encerrava a sessão de cinema no cine próximo à praça. Elinaldo despedia-se dos amigos e caminhávamos para me levar em casa. Vinha sempre me sacaneando e eu respondendo, às vezes com palavrões. Em uma ocasião falou uma coisa que só consegui entender muitos anos depois. Vivia sempre alegre e brincalhão mas quando falava sério mudava completamente. Disse: olha “seu” porra, tu já ta indo pro ginásio, agora quando voltar tu vai estudar sério, não quero saber só de passar de ano, tu tem que ser um dos melhores da turma, estuda que tu vai morar comigo em Brasília. Só muito depois percebi que ele, talvez até pelo contato que estava tendo com Alacid, planejava no futuro, candidatar-se a deputado federal.

No dia 15 de fevereiro de 69 acordei cedo e fui ao aeroporto esperar meu tio que viria para resolver o atraso no pagamento dos funcionários vencido desde o dia 30. Os recursos foram creditados durante a semana e ele não veio. Desci um ponto antes do meu para vir caminhando. Observei vindo, a mãe de minha tia Nazaré que parecia enlouquecida, andando muito rápido, descabelada, chorando e falando alto sozinha. Na hora achei que havia enlouquecido, senti até medo da situação. Quando me avistou falou: meu filho, mataram teu tio! Pensei que ela só podia estar louca mesmo. E completou: é, acabou de dar no rádio! Ela estava indo encontrar uma de suas filhas para telefonarem para Santarém.

Sai correndo e encontrei as outras pessoas da casa chorando em torno de um rádio na casa de uma vizinha. Vieram me abraçar. Nenhuma experiência ruim que eu tenha vivido se pareceu com a notícia da morte de meu tio. Não conseguia acreditar, caí num choro incontrolável e só conseguia dizer: é mentira! é mentira!. Tive uma crise de diarréia e vômito, logo a seguir febre. Fui medicado, sedativos anestesiavam meu desespero. No dia seguinte os familiares de minha tia viajaram para Santarém. Eu não quis viajar, não aceitava a idéia de ver meu tio morto.

Elinaldo morreu aos 33 anos, deixou a esposa grávida e três filhos que minha tia lutou sozinha para educar e formar. Sua morte mudou toda a história da família. Passamos a nos reunir na doença. Meus avós mergulharam em profunda tristeza, principalmente meu avô que chorava muito, perdeu a vontade de viver, quase não saia mais de casa. Desenvolveu doença cardíaca, não queria tomar remédios, quando passava mal era sempre socorrido por minha tia Nazaré e minha mãe, pedia que não lhe aplicassem o remédio e o deixassem morrer. Quase todo dia à tardinha ficava no quintal , sempre triste, cabisbaixo, lembrava muito de Elinaldo e chorava. Sempre dizia: esses miseráveis ainda quiseram chamar meu filho de ladrão. O “esses” de meu avô era muita gente e ao mesmo tempo não havia ninguém que pudesse ser apontado como o mentor da covardia. O ladrão estava relacionado ao dinheiro desaparecido das contas da Prefeitura.

Foram abertos dois processos pelo regime militar que responsabilizavam Elinaldo pelo sumiço do dinheiro. A família parecia enfrentar um inimigo invisível que espreitava. Não podia acusar sem provas, se o fizesse, além das conseqüências legais, corria o risco de ver o nome de Elinaldo estampado como ladrão.

Os processos foram arquivados, o principal envolvido estava morto. Houve pedidos, inclusive de Ubaldo, para que não fosse exposta a imagem de Elinaldo. Também não era possível provar que Elinaldo havia se apossado do dinheiro. Ubaldo foi procurado em Belém por familiares de minha tia que informaram a ele que ela estava sendo convocada para depor sobre o paradeiro de um dinheiro que ela não tinha idéia da existência. Ubaldo mandou o seguinte recado: diz pra comadre não esquentar a cabeça com isso porque morto não paga conta. Ubaldo era padrinho da primeira filha de Elinaldo.

Elinaldo não era ingênuo, mas era inexperiente na política partidária. Acostumado às disputas da Liga Esportiva onde foi eleito presidente duas vezes, talvez não tenha avaliado com precisão os enormes interesses econômicos por trás de discursos que parecem estar empenhados na defesa do interesse público e na verdade visam apenas a apropriação do poder ou de um “naco” para defenderem os seus negócios. Na Liga, guardadas as divergências, logo todos estavam lutando por seus clubes, fortalecendo o esporte e a própria Liga.

Viu tudo de forma muito simplista, achou que bastava muito trabalho, realizar uma boa administração, trazer a população para seu lado, que governaria sem maiores problemas. Queria fazer história, tinha ambição política. Era jovem, teria uma carreira longa pela frente e a estava construindo de maneira sólida e com passos muito largos. Era o político mais promissor de sua geração.

O seu não alinhamento foi fatal, o assassino foi o instrumento disponível para ser usado no momento e hora adequada. O matador foi tão vítima quanto a vitima de seu crime.

Nesse crime quase perfeito, fruto da insatisfação de alguns que viam o poder público como sua propriedade e extensão de seus negócios, quis o destino que o desenrolar dos acontecimentos teimasse em mantê-los sem o controle do município. Não seria possível destituir o prefeito eleito e entronizar o candidato derrotado. Após a pífia e impopular passagem de Geronimo Diniz, e diante de uma Câmara desgastada, Elinaldo por sua neutralidade e popularidade aparecia como opção.

Ao resolver fazer o seu próprio caminho Elinaldo selou o seu destino. Os que tramaram a queda de Elias Pinto, na sua insana ambição e certeza de impunidade julgavam que se Elinaldo era prefeito devia-se ao fato de terem tramado a queda de Elias Pinto, portanto Elinaldo lhes devia subserviência. Ele não só não compactuou com a trama como também não atendeu aos seus pedidos. Resolveu, diante da resposta popular a sua atuação à frente da Prefeitura, ser uma opção política para Santarém fazendo seu próprio caminho.

Sua coragem em manter-se independente soou como uma afronta aguçando o ódio e a covardia. Não poderia ter um executor mais perfeito para o crime. Severino Frazão tinha um histórico de violência, desequilíbrio, transtorno nervoso, era de fácil manipulação e estava aborrecido com Elinaldo por querer assumir a administração do Mercado Municipal, coisa que Elinaldo lhe disse pessoalmente que não faria, devido Frazão ter atentado contra a vida de um peixeiro. Não foi um crime encomendado feito por um assassino de aluguel, foi um crime premeditado onde os mentores foram induzindo o criminoso através de injeções de ódio e promessas.

A morte de Elinaldo foi a solução para os problemas dos insatisfeitos que conspiravam por se acharem donos do poder. Logo viria a intervenção que os recolocaria como protagonistas da política local.

Os criminosos tiveram um dia em que tudo conspirou a seu favor (quando se planeja, as coisas costumam conspirar a favor). O dia do crime coincidiu com a semana de muito dinheiro nas contas da Prefeitura e o Prefeito já havia assinado tudo para agilizar os tramites uma vez que os salários estavam atrasados. Esse dinheiro que desapareceu, foi rateado entre alguns que logo se tornaram prósperos, transformando-os em aliados de quem desencadeou a ação do criminoso e cúmplices no crime. O dinheiro comprou o silêncio. A conta ficou para o Prefeito morto. E sobre isso nada se pôde provar mas a família de Elinaldo tem a certeza que ladrões existiram, porque nunca viu a cor desse dinheiro.

Mas como todo crime perfeito sempre deixa algo fora do lugar, algumas perguntas ficaram no ar:

Se o criminoso não tinha armas, quem as deu para ele, e por que elas desapareceram após o crime?

Por que a policia atirou em um homem que se entregou desarmado, com as mãos para o alto, acompanhado de um padre que garantia que ele estava se entregando desarmado?

Por que os padres da casa paroquial, únicos a falar com Severino Frazão após o crime, foram “convidados” quase que imediatamente a se transferirem de Santarém?

Por que logo após o crime espalhou-se o boato na cidade que os padres da

casa paroquial haviam sumido com as armas? Que interesse teriam nisso?

Por que o militar que efetuou o disparo contra Frazão foi quase que imediatamente transferido para Belém, sendo afastado para suposto tratamento psiquiátrico e depois voltou à ativa sendo inclusive chefe de um destacamento em outro município?

Por que a imprensa noticiou que Frazão teve morte imediata alvejado com um tiro à altura do umbigo, quando sabemos pela declaração de um fotógrafo que ele estava vivo e sendo socorrido enquanto a policia evacuava o local?

Por que esse mesmo fotógrafo, ao fotografar o corpo de Frazão já em sua residência, constatou haver outro orifício na altura do coração?

Por que o fotografo teve o seu material aprendido e inutilizado pela polícia?

Por que imediatamente após o crime, antes de qualquer investigação, se difundiu a noticia que o crime foi fruto da loucura de um homem que reclamava o recebimento de salário atrasado? E por que essa tornou-se a versão oficial?

Por que, durante muitos e muitos anos esse crime foi quase que um tema proibido tanto na imprensa como nos meios políticos?

Os acontecimentos de 68/69 tiveram influência decisiva no futuro político de nossa cidade com reflexos nocivos até os dias de hoje. Ficamos sem escolher prefeito democraticamente de 1966 até o ano de 1985. Uma população que não exerce a democracia não amadurece politicamente. Perderam os cidadãos do município, perdeu a classe política, mas um político que fora derrotado emergiu das cinzas.

Após a intervenção dos militares Ubaldo Corrêa transformou-se no político mais importante de nossa região. Não houve interventor ou prefeito nomeado para o município sem a concordância e benção de Ubaldo Corrêa. Os acontecimentos tiraram de seu caminho político dois adversários difíceis de serem batidos. Elias Pinto que o derrotou e Elinaldo Barbosa que num futuro muito próximo iria disputar os votos dos santarenos numa candidatura a deputado federal. Restou apenas um político de expressão: Dr. Everaldo Martins, a quem Ubaldo ajudou a nomear prefeito no período que o município esteve sob a Lei de Segurança Nacional.

Ubaldo nunca mais teve uma votação expressiva em Santarém, além dos votos que os Corrêa sempre obtiveram através de uma política clientelista secular. Continuou a se eleger graças à expansão dos negócios e da política clientelista da família para outras regiões do Estado onde passou a obter alguns votos. Manteve-se sempre nos partidos da situação como é típico dos políticos representantes das oligarquias. Quando não esteve com mandato popular atuou à frente dos dois principais órgãos de fomento da região, a Sudam e o Banco da Amazônia. Militou na política cerca de meio século sempre participando do poder ou o exercendo, mas proporcionalmente ao tempo em que esteve participando da política, muito pouco pode ser mencionado como fruto de seu trabalho como legislador ou gestor de órgão público, em benefício da região.

A eleição de 66 entre um político populista contra um oligarca clientelista produziu uma lacuna na política santarena e deixou seus frutos. Seguindo os passos de Elias Pinto surgiu um político populista chamado Ronaldo Campos. Falastrão, demagogo, bom de gogó e ruim de trabalho. Foi o primeiro prefeito eleito após a intervenção.

O clientelismo político de Ubaldo foi mais fértil. A prática tornou-se a galinha dos ovos de ouro da maioria de nossos políticos. Produziu dois exemplares dignos de citação: 1) Antonio Rocha, apesar de não ter origem política em Ubaldo, seguiu a prática dos Corrêa. Distribui os seus favores através de sua próspera empresa de navegação que também é uma prestadora de serviços a municípios da região. A exemplo dos Correa instituiu a política do “naco”; 2) Osmando Figueiredo, fruto direto da política de Ubaldo, importado do Nordeste para aprimorar as técnicas de iludir o eleitor menos informado, afinal de coronelismo o Nordeste entende, este sofisticou a prática clientelista e outras, estas mais adequadas às páginas policiais, basta lembrar a “Operação Faroeste” da Polícia Federal sobre grilagem de terra. Seus negócios não entram na roda para fazer favores ao eleitor. Usa a própria estrutura do Município tendo sempre um órgão público ao seu dispor para viabilizar os seus currais eleitorais no planalto santareno.

A família Corrêa que há mais de um século é parte do poder em nosso Município, é fácil de definir: seus interesses são o interesse público e o público faz parte dos seus interesses.

Como disse Chico Science “O homem roubado nunca se engana”. Tem a certeza absoluta que algo lhe foi subtraído, mesmo que essa perda seja subjetiva como suas perspectivas, sonhos ou alguém que representava um grande motivo para se orgulhar.

Faço deste texto uma declaração de amor à pessoa que foi minha principal referência quando menino, me ensinando que para se ganhar dinheiro é preciso trabalhar e povoou minha infância de sonhos e alegrias.

Dedico a meus primos Silvia, Sara, Elinaldo e Abdon que conhecem a história do Elinaldo marido de sua mãe, nada ou quase nada sabem do homem público e não tiveram a sorte e a felicidade que eu tive de conhecer e conviver com o seu pai.


Paulo Cidmil

* texto originalmente publicado no blog do jeso em dezenbro de 2009 e no jornal O Estado do Tapajós em 15 de maio de 2010

SONHAR NÃO CUSTA NADA

Prefeita Maria do Carmo, como afirmou o ministro Joaquim Barbosa, na ocasião em que o Superior Tribunal Federal deu provimento ao seu recurso extraordinário, “a senhora estava sendo agraciada com um privilégio”. Para mim, a senhora é duplamente privilegiada. Por ter ganho uma causa considerada perdida e por ter a sorte de governar a sua cidade, ter a felicidade de poder fazer por seu povo.

Muitos sonham com essa oportunidade, é um pensamento que por hipótese passa na cabeça de qualquer cidadão, especialmente quando tem que enfrentar as dificuldades com transporte, escola, saúde, falta d’água, falta de luz, falta de trabalho, falta do que comer.

Na de outros, por ambição, ganância, soberba, vaidade, gente inescrupulosa que não mede as conseqüências para atingir o seu intento. Esses são mais tenazes, vêem na política uma oportunidade ímpar para realizar seus sonhos de poder. São vampiros que não se sensibilizam com a miséria humana.

Não gostei de seu governo, avalio como pífio os resultados do seu primeiro mandato. Vim a Santarém no dia 30 de dezembro de 2004 apenas para assistir no dia 1 de janeiro a sua posse, meu coração não cabia no peito de tanta esperança. Sua vitória significava minha geração chegando ao poder, e sobre tudo uma mudança nas práticas políticas e na forma de exercer o poder. Outras prioridades, novos horizontes.

Nascemos, crescemos, amadurecemos vendo nossa cidade refém de uma intervenção e posteriormente entregue a uma sucessão de prefeitos mais preocupados com os seus “negócios” que com o interesse público, grupos se locupletando para conquistar a chave do cofre do Município. Mudavam os eleitos, mas não se mexia no sistema. Vi na sua eleição uma ruptura com o nosso atraso.

Seu governo foi de muita publicidade e pouca eficiência. Nenhum plano estratégico de desenvolvimento a médio prazo, nenhum plano de desenvolvimento agrícola, nenhum projeto de integração regional, nenhum reordenamento territorial urbano, nenhuma inovação na educação ou na cultura, o Hospital Regional, a única novidade na área da saúde, transformou-se num imbróglio judicial.

Uma sucessão de pequenas obras em logradouros públicos sendo inauguradas com estardalhaço pictórico na divulgação, enquanto os operários davam o último retoque na maquiagem. Seu governo e partido reproduziram as velhas práticas de apropriação do Estado para autobenefício. Só mudaram os vampiros ao seu redor. Continuamos a viver a política do “naco”.

Sua propaganda apregoou grandes avanços na área da educação. Informam-nos que esses avanços chegaram ao interior. Em 2007 visitei uma comunidade chamada São Francisco da Cavada, lá existe uma escola que me disseram ter sido construída na sua administração, sinceramente pode-se chamar aquilo de tudo menos de escola.

Poderia ser uma pequena despensa para materiais, um pequeno forninho onde o seu governo alojou crianças. Seu erro talvez esteja em ter as obras do governo anterior como parâmetro, mas as escolas construídas no governo anterior, até mutirão de comunidade carente faria melhor, a base de pau a pique e palha. Garanto-lhe serem mais arejadas.

Prefeita Maria do Carmo, apesar de ter uma avaliação tão negativa de seu governo, tenho absoluta certeza que a senhora é uma pessoa íntegra, honesta e bem intencionada. Não está à frente da prefeitura para vampirizar nosso povo.

Aproveite a sorte que Deus colocou em seu caminho, não lamente os meses em que não pode governar, foram meses difíceis, de muita chuva, enchente, perdas e sofrimento para a população, muita água vinda do céu e nenhuma nas torneiras quase inexistentes das periferias. Desabrigados a chorar, o comércio a reclamar, o gado sem pasto, o roçado encharcado, seu asfalto novo esburacado, professores parados.

Os vampiros estavam ávidos diante do vazio de poder que se estabeleceu. Até a natureza conspirou para tornar a vida quase que insuportável. Nosso lindo e soberano Rio agigantou-se, como que a nos dizer que a tão bela e propalada orla ainda não existe. E o seu marketing chegou a inventar até uma Orlinha.

Agora não, o tempo mudando, o verão chegando, logo as festas juninas irão invadir as escolas, praças, quadras, clubes, com o colorido vibrante de nossas Quadrilhas e grupos de Carimbó. Quanta beleza e a certeza de um amanhã promissor há nisso, ver nossa juventude divertir-se e a nos divertir numa alegria contagiante. A felicidade custa muito pouco. As praias surgirão e o nosso orgulho de viver em uma pérola encantada estará explicito em nosso rosto. Esse Rio parece explicar e justificar a nossa existência.

Depois virá o 7 de setembro com as bandas e fanfarras de nossos escolas e colégios. Como é lindo o desfile cívico de nossa juventude, quanta vitalidade. Por trás dessa beleza comovente vejo a dedicação de nossas professoras e professores e um filme passa em minha cabeça. Vejo-me sentado em uma carteira escolar do Colégio Álvaro Adolfo da Silveira cheio de curiosidade sonhando com o vasto mundo.

A seguir virá o Sairé, a temporada de verão, o São Raimundo subindo mais um degrau no campeonato brasileiro, o Natal, o ano novo, o Carnaval. Quanta festa! E também tempo suficiente para prevenir das chuvas e da cheia que virá. O que sobrará do velho cais não sobreviverá à próxima enchente.

Prefeita, festa é o que não pode faltar para comemorar o seu retorno, a festa nos revigora, da um sentido transcendente a nossa existência, festa é um rito de passagem.

É uma mulher revigorada, magnânima e de pulso muito firme que espero esteja tomando as rédeas de nossa cidade, hoje tão maltratada e vilipendiada pela ganância e falta de espírito publico.

Nossa cidade precisa do esforço de todos para se soerguer, portanto não acredite que um grupo de iluminados poderá tirar da cartola as soluções. Isso não ocorreu no seu primeiro mandato.

Esqueça o governo “da Gente”. Que gente é essa? As facções do seu partido engalfinhando-se por cargos? Os partidos aliados ameaçando encostá-la na parede em busca de um novo “naco”? Sou gente, o povo de Santarém é gente, conheço muita gente boa que não tem nada haver com essa gente que lhe cerca. Seu governo “da gente” hoje tem uma conotação muito particular, o “da gente”, não é o nosso! Só os recursos dos cofres públicos o são.

Precisamos de um pensamento generoso que ao invés do Governo da Gente proponha o GOVERNO DE TODOS! Chame todos para conversar, ouça o que têm a dizer. Reúna com os professores e estudantes, com as universidades, com o produtor rural, com os empresários, com os lideres comunitários, com os artistas e produtores de cultura, enfim com todos os setores produtivos de nossa sociedade.

Coloque-se acima dos interesses partidários, pois acima dos interesses partidários estão os interesses do povo. E foi a senhora que o nosso povo escolheu.

Fale com a autoridade de quem teve 52% dos votos de nosso eleitor e se elegeria no primeiro turno se dois houvesse. Mas não se esqueça dos 48% que não a escolheram. E lembre-se que somando Abstenção, Nulos e Brancos Santarém teve 24% de eleitores que disseram não a eleição. Esse foi o 3º maior índice entre todas as cidades da Amazônia Legal com mais de 80 mil eleitores. A Insatisfação, e talvez a falta de opção, de nosso eleitor é latente.

Tome nas mãos a articulação política de seu governo, não delegue essa missão à pessoa que por maior que seja a sua confiança, tem a delicadeza de um elefante em loja de cristais. Não deixe que o orgulho e o ressentimento sejam maiores que a grandeza de um olhar generoso para o futuro, Santarém precisa de todos, inclusive dos que hoje são seus adversários.

Não entregue as Secretarias e Órgãos do município a partido A ou B sem que esses Partidos tenham os profissionais qualificados para exercerem a função. Distribuir cargos apenas pelo critério político emperrará a sua gestão. Privilegie o conhecimento, a competência e o compromisso com o interesse público.

Não permita que as obras do PAC virem ficção, paralisadas pela justiça por irregularidades na gestão. Mande as favas o já tradicional fundo de campanha fonte de corrupção e de enriquecimento ilícito. Aproveite que as torneirinhas do Governo Federal estão abertas e inicie o trabalho de saneamento básico, nunca seremos uma cidade decente sem essa obra de infra-estrutura elementar, mas saiba que do Governo Federal ou organismo de financiamento como o BNDES ou Banco Mundial não sairá um centavo sem projetos consistentes nos seus objetivos, orçamento e cronograma, para isso a senhora precisa de bons técnicos não de políticos sem mandatos e desempregados. Lembre-se que as torneirinhas do Governo Federal se fecharão em junho de 2010.

Prefeita, essa espera pela decisão dos tribunais lhe trouxe muitos benefícios, e nem cabe enumerar, os principais foram ter implodido a sua coligação e livrá-la de uma dezena de partidos em busca de cargos, outro foi livrá-la do desgaste que foram esses meses difíceis de chuva e enchente. Tudo está a seu favor: O povo, a maioria na Câmara, o orçamento de 2009 feito pelo seu governo em 2008 e o apoio do Governo Federal. Contar com Belém seria esperar demais.

Pode parecer pretensioso alguém sem nenhuma expressão na sociedade santarena aconselhar uma política tão experiente, meu texto, no que lhe sugere, por muitos será interpretado como ingênuo. Sem duvida, são palavras de um sonhador.

Mas observe ao absurdo que chegamos. O que deveria ser a regra no exercício do mandato político tornou-se algo tão inusitado que virou objeto de sonho.

A política de resultados, o pragmatismo hoje tão essencial, tornou o fazer política uma pratica tão rasteira que não permite mais espaço para o sonho e as utopias. É apenas um jogo de perder e ganhar que abriga toda espécie de jogador e oportunista.

Desejo que a festa que o povo esta fazendo para comemorar a sua volta seja capaz de despertar a jovem que um dia viu na política um caminho para transformar a dura realidade de nosso povo, proporcionando a infra-estrutura e os mecanismos de apoio, criando as oportunidades. Que o programa “Minha Casa, Minha Vida” chegue a Santarém e realize o sonho da casa própria para os que não têm teto, e que, em Santarém, seja um exemplo de execução.

Que seu governo seja repleto de iniciativas criativas, que a senhora esteja cercada por colaboradores competentes que não perderam a capacidade de sonhar, que o amor e a solidariedade por nosso povo sejam os valores que norteiem suas decisões e que Deus acompanhe todos os seus passos, livrando-lhe do medo, do desanimo e à proteja da covardia.

Parabéns e êxito na sua caminhada.


Paulo Cidmil

* texto originalmente publicado no blog do jeso em 12 de junho 2009

BOI AVOA SIM SENHOR

O Artigo 14º, a Emenda 45 e o jeitinho brasileiro

Passei a tarde do dia 04 de junho inquieto, atento aos blogs de Santarém para saber noticias do julgamento do caso Maria do Carmo Martins. Após a decisão liguei para amigos e familiares a fim de saber como estava o clima de festa e de insatisfação na cidade, que durante toda a tarde ficou mais mobilizada ouvindo rádio e Tv, que quando acompanha jogos do São Raimundo em decisão de campeonato em Belém.

À noite, já inicio da madrugada, liguei a Tv no canal justiça, estavam exibindo o julgamento do recurso extraordinário de Maria do Carmo Martins. A Ministra Ellen Gracie, relatora, fazia sua exposição, acompanhei tudo atentamente. Logo veio a defesa argumentando o direito adquirido e a supremacia do sufrágio universal, clausula pétrea da Constituição.

A acusação se contrapôs sustentando a inconstitucionalidade da diplomação de Maria do Carmo Martins, fundamentada na Emenda 45 da mesma Constituição, que revoga todas as regras anteriores e veda, sem qualquer exceção, a participação dos membros do Ministério Público ao exercício de atividade político partidária.

A seguir vieram as intervenções da ministra Ellen Gracie e logo após a do ministro Eros Grau. Ellen Gracie sustentou a inelegibilidade de Maria do Carmo Martins uma vez que era inequívoca a interpretação da Emenda Constitucional 45. Como todos sabem Maria do Carmo Martins ainda é promotora licenciada, ou era até as últimas eleições.

A defesa de Maria do Carmo argumentou haver um direto adquirido. Que ao se apresentar ao eleitor em sua primeira candidatura, em se elegendo adquiriu o direito de recandidatar-se, uma vez que em nosso País a legislação permite a reeleição e a população teria o direito de, no caso de aprovação, reconduzir a mandatária para dar continuidade a um programa de governo exitoso.

A ministra Ellen Gracie foi categórica ao afirmar que “a possibilidade de recandidatura é assegurada apenas para quem preencha os requisitos para elegibilidade” e Maria do Carmo, por não haver se demitido ou aposentado do Ministério Público não preenchia os requisitos necessários.

O ministro Eros Grau, argumentando ser o caso Maria do Carmo peculiar, destacou não haver uma regra de transição para disciplinar, simplificando: quando se passa de um regime jurídico a outro, haveria de ter um período de transição, uma regra para disciplinar casos peculiares como, no seu entender, era o de Maria do Carmo Martins. A Emenda 45 estabeleceu esse novo regime jurídico.

Esse argumento e o do direito adquirido foram prontamente rechaçados pelos ministros Cézar Peluso para quem “seu direito de reeleição se exauriu ao término de seu primeiro mandato” junto com a sua condição de licenciada. Para as eleições de 2008 Maria do Carmo Martins deveria submeter-se a legislação vigente. A ministra Ellen Gracie lembrou que a Emenda 45 foi publicada no dia 30 de dezembro de 2004, dois dias antes da posse de Maria do Carmo para exercer o seu primeiro mandato. E o ministro Joaquim Barbosa afirmou haver Maria do Carmo ter tido 3 anos e meio, todo o seu primeiro mandato, para, no caso de pleitear a sua reeleição, desligar-se do Ministério Público, atendendo assim a todos os requisitos para sua elegibilidade. O ministro Joaquim Barbosa, de forma irônica ainda afirmou: “essa senhora teve três anos e meio de transição para cumprir o que estabelece a constituição”. O ministros Cézar Peluso, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie e Celso de Melo concordam existir uma clara objeção estabelecida na Emenda 45 que impede a candidatura de Maria do Carmo Martins e afirmam que os critérios de elegibilidade devem ser observados a cada eleição.

O ministro Ricardo Lewandowski, que no STE havia votado contra, aqui vota a favor do recurso de Maria do Carmo argumentando ter ela o “direito fundamental à participação política”, e reforça a tese de direito adquirido e a ausência de regra de transição, uma vez que Maria do Carmo, ao ser eleita para o primeiro mandato, estava sob uma regra que permitia a recandidatura na condição de licenciada do Ministério Público. No que teve o apoio dos ministros Marco Aurélio Melo e Carlos Ayres que ressaltou que dever-se-ia resguarda a soberania popular. “A vontade popular é soberana” disse Carlos Ayres, respaldado no artigo 14º da Constituição. “Mas o povo também está submetido à Constituição, e a Constituição é clara, a requerente não preenchia os pressupostos para candidatar-se” afirmou Joaquim Barbosa, com total apoio de César Peluso, Ellen Gracie e Celso Mello.

Tão surpreendente quanto o voto a favor de Maria do Carmo do ministro Ricardo Lewandowski, que defendeu a tese do direito à participação política e do resguardo a soberania popular além de referendar a tese de Eros Grau, foi o voto da ministra Carmen Lucia, ela que como ele, havia votado no STE contra a diplomação de Maria do Carmo, permaneceu muda, não participou do debate e ao pronunciar seu voto, limitou-se a dizer que seguia a tese e argumentação do ministro Eros Grau.

Outra alegação da defesa foi que Maria do Carmo havia consultado o Ministério Público Eleitoral do Estado do Pará e obteve como resposta a afirmação de que a licença obtida para eleição anterior era válida para a eleição de 2008. Evidente ficou que quem respondeu a consulta baseou-se na legislação anterior a Emenda 45. A então candidata que também é membro do Ministério Público deve ter tomado conhecimento da Emenda 45 que estabelece a Reformado Judiciário.

A um ano da eleição de 2008 quando já era do conhecimento publico a sua candidatura a reeleição, muito se comentou nos meios políticos e até na imprensa sobre o fato de que Maria do Carmo Martins deveria exonerar-se ou aposentar-se do Ministério Público para poder recandidatar-se. Mas de posse de uma declaração do Ministério Público Eleitoral do Estado do Pará, sentiu-se resguardada, pagou pra ver e preferiu não trocar o certo pelo duvidoso. No caso de perder a eleição voltaria à Promotoria, para o seu emprego vitalício.

Alias é bom observar que a Justiça do Estado do Pará tem uma maneira muito particular de interpretar a Lei e de fazer Justiça basta observar os fatos. O caso da irmã Dorathy, Eldorado do Carajás, garota menor em cela com homens sendo seviciada, trafico de adolescentes para as Guianas, crianças sendo prostituídas e vendidas no Marajó, trabalho escravo no Sul do Estado, colapso do sistema de saúde, doenças medievais, paralisação do ensino público, campeão de queimadas, campeão de desmatamento. No Estado do Pará a impunidade é tamanha que faria o coronel mais conservador do lugar mais atrasado do Nordeste ruborizar e morrer de inveja. No Pará só se prende ladrão de galinha. A Justiça Eleitoral do Pará não poderia ser diferente, foi no mínimo displicente.

Os homens do Ministério Publico Eleitoral do Estado do Pará fizeram a sua interpretação da Legislação Eleitoral e deram a Maria do Carmo Martins o gancho providencial para que, como quem cria um casuísmo, permanecesse na condição de licenciada, concorresse e ganhasse a eleição sem abrir mão do direito agora inexistente, desde dezembro de 2004, de voltar a Promotoria, ou o que é pior, concedeu-lhe o direito de concorrer em 2008 sem desligar-se do Ministério Público. Maria do Carmo Martins confiou no jeitinho brasileiro e depois de todo esse sufoco, e se deu bem.

Foi muita reza, muita oração, muito tambor e com toda certeza uma “torcida” fundamental do Partido dos Trabalhadores no Planalto para sensibilizar o STF de que Maria do Carmo Martins e os seus eleitores merecem que ela governe a nossa Pérola do Tapajós.

Convincentes e absolutamente claros, foram os argumentos dos ministros que se opunham a elegibilidade de Maria do Carmo. Inconsistentes e extremamente contraditórios foram as teses e justificativas dos ministros que a reconduziram a Prefeitura de Santarém. Culminando com o voto do Presidente da casa, que fecha com “chave de ouro”, propondo a tese de que “deve-se preservar a idéia de segurança jurídica”, conceito por demais difuso, capaz de possibilitar um imenso guarda-chuva jurídico para agasalhar um tremendo saco de gatos. Nessa hora lembrei-me das palavras do ministro Joaquim Barbosa ao referir-se ao presidente do Supremo como uma vergonha para o Judiciário.

A constituição não é um texto, que como o texto teatral ou o roteiro cinematográfico, permite diversas ou infinitas interpretações e arranjos cênicos. Ela é produto do pensamento, de muita reflexão, e, por isso, muito clara e objetiva nas regras, direitos e deveres que estabelece.

Os ministros que deram o segundo mandato a Maria do Carmo Martins pisaram na Emenda Constitucional 45. O Argumento de direito adquirido (defesa), regra de transição (Eros Grau), resguardar a soberania popular (Ayres Brito), direito a participação política (Ricardo Lewandowski) foram por demais frágeis diante da leitura e interpretação de nossa carta magna realizada pelos ministros Cézar Peluso, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie e Celso Mello.

A Maria do Carmo Martins seria dado um privilégio que a nenhum outro dos cerca de 10 mil membros do Ministério Público foi possível até então. Isso foi muito bem colocado pelos Ministros Joaquim Barbosa e Cézar Peluso. Não existe membro do Ministério Público exercendo mandato na condição de licenciado, a nenhum foi possível candidatar-se a partir de dezembro de 2004, sem desligar-se do Ministério Publico, exceto, hoje, Maria do Carmo Martins.

O julgamento do requerimento de Maria do Carmo Martins é um exemplo típico de nosso Judiciário. Nos mostra como é possível, através de um contorcionismo interpretativo, mesmo que pouco convincente, fazer boi voar, para isso basta que a maioria dos juízes queira ver o boi no ar.



Paulo Cidmil

* texto originalmente publicado no bog do jeso em 11 de junho de 2009

RACIOCÍNIO TORTO

Contraponto de Paulo Cidmil, produtor artístico, ao artigo O lado bom dos buracos, de Nelson Vinencci:

Quanta estupidez e atraso nesse seu raciocínio torto. O que você acha de uma cidade com boa pavimentação, sinalizada, com faixas nas ruas para os veículos e nos cruzamentos para os pedestres?

E placas indicativas nos cruzamentos informado quem tem a preferência? Setas e placas com indicação dos bairros para que o cidadão possa se localizar? Toda cidade recebe visitantes, uma cidade polo comercial e destino turístico recebe muito mais.

Enfim, que tal Santarém com um trânsito planejado que cumpra a legislação de trânsito indicada para centros urbanos civilizados. Que você acha de campanhas educativas nas escolas e universidades sobre a violência no trânsito?

Por que não realizar campanhas de longo prazo no rádio e televisão, inclusive veiculadas também na TV do Adote um Buraco? (TV Ponta Negra). Afinal, o governo atual tem gasto uma verba considerável com publicidade. Campanhas de caráter educativo e que tanto precisamos em nosso município, não se vê.

E aqui levanto outra questão: por que o poder público não trata a verba publicitária com maior transparência e a investe de forma mais democrática? Ou será que o grosso das verbas de publicidade são destinadas aos amigos? (…)

É bom também não esquecer que a nossa Prefeitura petista tem uma certa ‘influência’ no direcionamento da publicidade do Governo Federal em nossa região (se é que eles são levados a sério pelo pessoal de Brasília, tenho minhas dúvidas).

Parece que você não pensa nada sobre isso. Como também deve achar que ter ruas pavimentadas como as que existem em Oriximiná é uma conquista impossível para Santarém?

Pelo que podemos constatar na atuação dos últimos governos parece mesmo uma conquista impossível. Santarém sequer tem placas sinalizando o nome das ruas. Você vai do Uruará, passa pelo Urumari, cruza a Jaderlândia (que nome vergonhoso. Porque não Joá?), vai para Santo André, passa a Nova Republica, entra no bairro da Floresta, sai na Matinha, chega no Santarenzinho, passa pela Conquista, vem para Alcione Barbalho (será que não existia uma denominação anterior para esse lugar?) chega ao Maracanã; se quiser pode dar uma voltinha no Mapiri, vai pro Jardim Santarém, chega no Aeroporto Velho, da um rolê no Colosso do Tapajós e desce para o Diamantino, dai pra São José do Operário, cruza parte do Uruará para chegar em Santana e sobe para o Santíssimo.

Você não encontra em nenhum desses bairros uma placa indicativa com o nome das ruas. Projeto barato de fácil execução e de uma importância fundamental para nos nortear à procura de um endereço. Não existe sequer uma indicação com o nome dos bairros. Coisa espantosa para uma cidade com mais de 200 mil habitantes.

Nelson, desconfio que você anda pensando em tentar a carreira de humorista. Podia participar do programa do Tom Cavalcante, existe um quadro para novos talentos, porque você não arrisca a sorte? Mas sinceramente penso que deveria continuar tocando seu violãozinho, foi isso que lhe deu notoriedade, inclusive o transformando num dos principais articulistas do Jeso Carneiro. Pense nessa máxima futebolística: em time que esta ganhando não se mexe!

Ah, gosto muito quando você canta aquela canção do querido poeta Emir que fala da saudade passando de bubuia nas águas do nosso Tápajós.

Paulo Cidmil

* texto originalmente publicado no blog do jeso em 18 de junho de 2008

QUERIDO ZÉ AZEVEDO

Se interessante são a prosa e poesia que saltam de seu texto, nos dando a dimensão da intensidade com que vive sua arte, maior é a dignidade com que não se esquiva de uma situação que para muitos homens de pouco caráter se tornaria embaraçosa.

Escrevo a você não para falar da forma e conteúdo de seu texto que para muitos parece complicado, leviano e até mesmo caso de patologia clinica. Você se expressa talvez da única forma possível para alguém que longe da erudição acadêmica, como um autodidata, abriu seus horizontes. Para quem a arte é indissociável da vida. Para o artista a vida sem arte é a não existência.

Nem sabia que você fazia parte do grupo ou movimento chamado Canto de Várzea, o conheci fazendo arte e lembro-me de gostar e muito de algumas canções que me mostrou no ano de 79 ou 80 em uma Rua de Copacabana. Na época você estava no Rio e trabalhava em banca de jornal. Soube que Beto Paixão seria outro componente do grupo. Conheço-o da época de escola primária e ele já fazia suas canções, nasceu em berço de músicos e os músicos de sua família dariam um consistente capítulo na história cultural de nossa cidade.

Outra coisa que lembro muito bem: você sempre foi um trabalhador, lutando por seu sustento e por suas convicções. Depois deixou o Rio, e eu não soube mais de suas andanças. Sei que das poucas vezes que estive em Santarém, entre os anos de 76 e 2004, sempre perguntei por você. Em uma ocasião, creio que em 90, o visitei em uma pequena lanchonete, onde falou com entusiasmo dos benefícios do suco de mastruz com leite que vendia e dos planos de gravar suas canções.

O fato de não se omitir, não negar o amigo ao ver o fogo cruzado que a carta de Apolinário fomentou, causando contrariedade e muitas reações para que o assunto fosse rapidamente morar embaixo do tapete, chamou minha atenção.

Você vem e não só confirma as palavras e a estima pelo amigo que esta sendo rejeitado, a ponto de ser tratado como o inominável, bota mais lenha na fogueira das vaidades e faz seu desabafo. Apolinário virou caso de instabilidade social, mais nocivo que epidemia. Você um caso clínico, esquizofrenia é pouco. Vou te mandar uma camisa com a seguinte frase: SOU MALUCO, NÃO SOU DOIDO, para que a coisa esteja explícita quando chegarem os rapazes da camisa de força.

Como dizia Chico Science no seu groove mangue beat “e você samba de que lado…. de que lado você quer sambar”. Você prontamente pulou no terreiro e disse onde, pra você, é o lado bom de sambar.

Óbvio está que você vem encontrando muita dificuldade para expressar sua arte. Isso muito tem haver com os meios que nem sempre são acessíveis. A precariedade material do artista às vezes o expõe à condição de pedinte, seja das secretarias de cultura, onde quase sempre tem um burocrata do partido, de patrocínios ou de amigos de ocasião, com mais posses e contatos quentes. Isso às vezes resulta nos corpos sem cabeça que você cita. Onde todo mundo É e poucos SÃO.

O artista, quando desprovido dos meios, tem apenas sua criação que nem sempre pode ser apresentada na forma como concebida. Música contemporânea, ou moderna, hoje depende de um aparato tecnológico que custa dinheiro. Isso com certeza você não tem.

Chama atenção também a condição que sobrevivem os músicos e cantores e cantoras dos conjuntos de baile em Santarém. Muitas dessas bandas com músicos excepcionais. E não são poucas, existem mais de 15 bandas fora os sertanejos e MPB, tocam 5 horas por cachê de cinqüenta reais, porque essa é a realidade local. A Orquestra Professor José Agostinho e a Sinfônica Maestro Wildes Fonseca vivem em romaria junto ao poder público para receber o apoio necessário, fazem um trabalho fantástico, são nossas principais escolas de músicos e preservam a nossa tradição cultural em seu repertório.

Nosso município paga cachês estratosféricos para atrações nacionais em eventos de seu interesse, devem acreditar estar promovendo a cultura. Aos grupos locais, valores que nunca passaram de um dígito, quando não os quer de graça no palco a título de divulgação.

Parece haver um “artista” varzeano no controle das políticas publicas em nosso município, mas, no entanto, nenhum projeto ou iniciativas no sentido de valorizar e estimular a profissionalização de nossos músicos. Isso sim me parece inominável e de difícil entendimento para minha cabeça, que por sinal tem um certo achatamento.

Zé, você e Apolinário falam de elite. Vi reações de alguns como se isso não existisse. ELITE EXISTE! Seja política, econômica, científica, cultural. Em cidades como a nossa quase sempre se viveu sob o domínio da elite política e econômica, é uma espécie de casta que dá as cartas. Em torno dessa elite sempre há um séquito de lambe-sacos. Tive a oportunidade de uma vez presenciar reunião dessa dita “Elite”.

Fui assistir a um show do cantor Zé Renato no BeloAlter, a casa estava cheia, toda a fina flor. Zé Renato, músico que há mais de 30 anos vive de seu trabalho como artista, com um espetáculo de repertório primoroso - Noel Rosa, Cartola, Assis Valente, Nelson Cavaquinho -, tentava a duras penas conduzir seu show sem a devida atenção do público. Uma platéia ensandecida num exibicionismo patético.

Davam gritinhos, faziam piadinhas ridículas uns com os outros, falavam e transitavam em frente ao palco como se ali nada estivesse acontecendo. Pagaram ingresso, saíram de casa para fazer o show, se um bajulava, o outro retribuía a bajulação, tudo isso em voz alta, chegando ao limite do artista em um dado momento perder a concentração. Seu texto tem uma frase que traduz essa cena: “Almas sedentas de suas próprias mesmices”. Quanta falta de respeito para com o artista. Senti imensa vergonha, conheço Zé Renato, mas não tive coragem de ir cumprimentá-lo.

Zé Renato desceu do pequeno palco e a platéia de bajuladores já gritava o nome de João Otaviano e o de um ser, esse sim, inominável, que jogou na lata do lixo uma oportunidade preciosa de mudar a história política de nossa cidade. Pena que isso não cause indignação em seus amigos tão lúcidos. Antes de me retirar, ainda pude ver João Otaviano subir ao palco, não sei se estou certo, mas ele, pessoa por quem tenho um grande respeito, por quem minha mãe e meu irmão tem uma profunda admiração e amizade, me pareceu constrangido. Perdi a oportunidade de conhecer suas canções, o ambiente não permitia.

Alguns poderão dizer que um assunto não tem nada haver com outro, mas afirmo que tá tudo junto e misturado, e isso pode explicar, não o vazio, porque em nossa cidade muito se produz cultura, mas esse beco sem saída, essa “ingrisilha” sem aparente solução que é a produção, difusão e conseqüente formação de público e mercado para a arte produzida em nossa região. Mas acredite, Zé, o artista sempre inventa uma saída, quem não entende dessa dança vai teorizar e proferir discursos moralistas cheios de indignação. Mas vazios de arte, poesia e tesão.

Querido Zé, talvez esteja na hora de você procurar sua turma, e Santarém é um mundo muito vasto, além dessas fronteiras varzeanas que você transita, que até acredito tenha muita gente boa.

Vou te dar uma idéia, assim podemos até encontrar para beber umas cervejas, aproveite e chame o Apolinário. Domingo, por volta das 22 horas, a gente marca um dez no Standarts, fica ali no comecinho do Uruará, na Elinaldo Barbosa com a Dom Frederico. A cerveja é gelada, tem tacacá, sopa de legumes, mocotó, coquetel de frutas com boa cachaça, o dono é um tremendo boa praça e não cobra ingresso de músico, as bandas da cidade fazem o maior sucesso, o público admira e respeita os seus artistas e só apanha quem merece.

Agora vem a parte mais importante: por lá vão se divertir as morenas mais lindas de nossa pérola, elas tem o magnetismo irresistível das mulheres de nossa terra que o Apolinário mencionou em uma de suas cartas. São objetivas e sem rodeios. Se gostarem você fará uma nova amizade. E você sabe que amizade com mulher quanto maior a intimidade, melhor fica. Mas se não gostam, é provável que ouça uma frase bem típica de nossa região: “Olha já!!”. Mais simples, impossível.

Imenso foi o prazer que me proporcionou seu texto, não por estar colocando os pesos e medidas em um assunto que muitos tratam como picuinha ou “ingrisilhas” entre um grupo de amigos que logo deverão estar juntos cantando no mesmo palco. Mas por haver colocado as dificuldades e angústias que o artista enfrenta em nossa cidade quando resolve ser apenas artista.

Por isso, meu querido, o texto abaixo é dedicado a você e a essa discussão que tem o mérito de tirar as pessoas da paralisia em que se encontravam. Antes que eu me esqueça: podemos também marcar uma pescaria de Avium com puçá. Iremos comer lá na casa do Sebastião Tapajós, ele tem uma receita de Avium recheado com farofa de banana e catupiry que é uma maravilha.

AMOR DE MUITO

Amor ao que é negado e ao que se nega

Ao que se oculta e é vergonha

Ao que fingimos não ver.

Ao que não está nas estatísticas do progresso.

A tudo que se refugia.

Amor ao não e a preguiça

À festa e toda forma de perdão

Amor ao preto, branco, vermelho e amarelo,

Ao azul: infinito e imensidão.

Paulo Cidmil

* texto publicado originalmente no blog do geso em 31/05/2009

A DEMOCRACIA TOTÁLITÁRIA ou A LÓGICA DO ABSURDO

É interessante perceber como o discurso pretensiosamente formulado em defesa e pela prática democrática, pode escamotear intenções e projetos políticos nada democráticos com o objetivo de tornar hegemônicos grupos políticos que propalam o desejo de compartilhar com a coletividade a formulação de novas políticas públicas. Esse coletivo serve apenas para legitimar uma farsa montada por esses grupos quando afirmam estar convocando a sociedade e esta é ouvida em seus anseios e que suas demandas serão contempladas nos planos e metas do governo, em prol da coletividade.

Primeiro: Essa participação irá no máximo à sugestão de propostas que uma plenária nada democrática na forma como é articulada, irá decidir. Segundo: O Partido mobiliza toda sua militância, estabelecendo um aparato de controle, que normalmente o grupo hegemônico do Partido aplica para manter o seu poder interno.

Essa prática partidária é exteriorizada nesse Fórum dito democrático. Então é fácil ver em uma Conferência Intermunicipal de Cultura os representantes da Pastoral do Menor, o Sindicato dos Pescadores, dezenas de associações de moradores, entidades indígenas e quilombolas, que até poderiam estar presentes, mas não são preponderantes em um Fórum que se propõe a formular políticas públicas para toda a cadeia produtiva da Cultura. São atores sociais que estão na outra ponta dessa cadeia produtiva. São espectadores, consumidores, podem ser parceiros dos artistas e produtores nas suas estratégias de divulgação e circulação da produção. Mas daí virem a ser formuladores de propostas com estratégias que consolide e amplie o mercado, que possa profissionalizar centenas de trabalhadores da arte e estabeleça uma agenda positiva com prioridades e metas para os investimentos do Estado na área cultural ou é esperar demais ou é o deixa como está que o grupo vê como é que fica.

Como por exemplo, discutir Economia da Cultura se não temos presente nesse Fórum os agentes que promovem cotidianamente o entretenimento: empresários das casas noturnas, bares e clubes; bandas e grupos musicais dos diversos gêneros e estilos, produtores, fornecedores de serviços. Isso apenas para citar um grupo significante nesse mercado: a música popular. Afinal o Mercado da Cultura movimenta valores significativos, gera milhares de empregos diretos, distribui renda, envolve uma cadeia produtiva que vai do artesanato ao web design do folclore ao audiovisual. Fora o que agrega na área de serviços técnicos especializados, alimentação, bebidas, vestuário, mídia (divulgação).

Pergunto-me como a articulação de grupos da sociedade civil, a partir da militância político partidária, chega ao poder propondo além da prática democrática, bandeiras como autonomia, respeito à diversidade ideológica, combate ao nepotismo e ao clientelismo, austeridade nos gastos públicos, orçamento participativo. Quando chegam ao poder têm comportamento voraz por cargos que são ocupados sem que sejam observados os critérios de qualificação, competência e experiência. A gestão pública é tratada como o resultado de um bolão de loteria onde cada grupo busca receber a sua fatia de acordo com o seu investimento; empresas e pessoas físicas são alijadas da prestação de serviço por serem considerados adversários ou não serem “companheiros” das horas de campanha; amigos e parentes até o concunhado são nomeados para cargos de confiança, diretorias, e até secretarias e as ações clientelistas grassam.

Quanto à austeridade é só observar os valores pagos por contratação de serviços de atrações artísticas na área de eventos e é fácil comparar os valores de mercado com os valores pagos pelo poder público pelos mesmos serviços. Estariam sendo enganados? Essas práticas serão em prol do interesse público? Ou visam a beneficiar um grupo que se apropria do poder para auto beneficiar-se e cinicamente, através do artifício da participação popular, tenta vender para opinião pública a imagem de gestão participativa. É o governo da gente!. Que gente é essa?!

Personagens medianos como intelectuais e nas suas habilidades profissionais, longe de atingirem um grau de excelência capaz de traduzir-se em prestígio pessoal, através da militância partidária são inflados de uma auto-importância e alçados a categoria de gurus e ícones da “intelligenzia” por essa bolha de poder momentânea que a política é capaz de produzir. Seu mérito: esperteza para ocupar espaços, agir de forma pragmática, ausência de escrúpulos para celebrar acordos, métodos nada convencionais, pois os fins justificam os meios.

A política nos proporciona personagens que por terem esse êxito momentâneo, e com a conseqüente bajulação já inerente a todo espaço de poder, são acometidos da soberba e chegam a acreditar que estão acima do bem e do mal. Subestimam a inteligência alheia, a lei e a capacidade de discernimento do povo. Acham que o seu interesse é o interesse coletivo, que as suas teses e idéias são iluminadas, e por serem assim tão essenciais as nossas existências o melhor que pode acontecer é que permaneçam no poder. Julgam-se autorizados, talvez quem sabe por um dom divino, a serem juizes e executores do que convém ao interesse coletivo e como deve ser gasto o nosso dinheiro. Também acreditam muito em uma pirotecnia publicitária para convencer o povo.

E, assim, temos que conviver com os dirceus, os paulos rochas, os everaldos, que querem nos fazer acreditar estarem dedicando o seu precioso tempo e iluminada inteligência, para assegurar o nosso bem estar e o futuro de nossos filhos. E mais que isso, acreditam que somos um bando de idiotas.

Paulo Cidmil

* texto originalmente publicado no blog do jeso em 03 de julho de 2007